sexta-feira, dezembro 18, 2009

MOÇAMBIQUE: Clínica noturna para atender às trabalhadoras do sexo

A Organização da Mulher Educadora de SIDA (OMES) na província central de Manica, em Moçambique está como projeto de criar uma clínica noturna para atender exclusivamente a trabalhadoras do sexo e seus clientes na área fronteira com o Zimbabwe.


O projeto, que conta com a parceria do Ministério da Saúde de Moçambique (MISAU), prevê que a clínica seja instalada até finais de 2010, em Machipanda, na principal fronteira terrestre entre os dois países, a sete quilómetros de distância do centro da cidade de Manica.
A responsável da organização explica que as trabalhadoras do sexo temem ser reconhecidas ao entrarem nas unidades de saúde, o que provocaria preconceito nas comunidades.


“Esta é a hora de colocar uma clínica noturna em Manica. Notamos que algumas mulheres ainda não aderem aos postos de aconselhamento e testagem de saúde por receio de discriminação e uma clínica noturna seria ideal” afirmou Maria Clara Paulom, coordenadora da OMES em Manica.

O projeto ainda depende de financiamento por parte dos parceiros externos. Em 2006, a OMES foi obrigada a interromper, por falta de fundos, um programa de prevenção de HIV para trabalhadoras do sexo e camionistas de Inchope, considerado o principal cruzamento económico e sexual da província.

“A maioria trabalha à noite e de dia passamos a dormir. Se houver uma clínica no nosso horário de trabalho acredito que haverá candidatas ao teste”, disse Virgínia Tshemo, 22 anos.


A descoberta de minas de diamantes do outro lado da fronteira no Zimbabwe, tornou Manica um centro de comércio ilegal de pedras. O comércio do sexo na cidade veio desta oportunidade.

Estrangeiros e trabalhadoras do sexo lotam as hospedarias da cidade. “Eu prefiro actuar aqui [em Manica] porque tenho facilidades de comunicação [uso de Shona e inglês, línguas faladas no Zimbabwe] e ganho por cada cliente o triplo que é cobrado noutras regiões de Moçambique e do Zimbabwe”, disse a trabalhadora do sexo, Mary Mambondin, 27 anos.

A fugir da crise como Mambondin, muitas zimbabueanas cruzam a fronteira entre os dois países para fugir da crise económica e agrária do seu país de origem. Um número crescente delas acaba por ter que recorrer ao sexo comercial para sobreviver. As dificuldades financeiras tornam essas mulheres ainda mais vulneráveis ao HIV, principalmente porque o sexo com camisinha custa 200 meticais (US$ 7): a metade do custo do sexo desprotegido, cotado na cidade a 400 Meticais (US$ 13,7).


O distrito de Manica, com 23 por cento de seroprevalência é um dos mais afectados pela epidemia devido à sua localização geográfica: no corredor que liga Zimbabwe, Malawi e Botswana – países cujas taxas de seroprevalência estão entre as mais altas do mundo e muito acima da média nacional de 15 por cento.

A prática da prostituição ainda é ilegal em Moçambique, apesar do Inquérito Nacional sobre a Prevenção de SIDA de 2006 haver mostrado que o sexo comercial é prática comum: 46 por cento dos entrevistados recorriam ao sexo comercial, principalmente no centro e norte do país. Estima-se que existam cerca de 30 mil trabalhadoras do sexo em Moçambque. E organizações como a OMES estão a tentar recrutá-las como novas aliadas na resposta à epidemia. “Com o aumento galopante da prostituição em Manica era difícil fazer vista grossa à realidade. Há vários estrangeiros solteiros e com algum poderio económico, devido ao comércio ilegal de minerais e isso atrai as prostitutas” disse Maria Clara Paulo, coordenadora da OMES em Manica.


Notícia veículada por: http://www.plusnews.org/pt/Report.aspx?ReportId=87281

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