quarta-feira, fevereiro 16, 2011

Egas Moniz, o português que recebeu um Prémio Nobel



Mais de sessenta anos após ter sido agraciado com o Prémio Nobel de Medicina em 1949, Egas Moniz continua a ser uma lenda da Neurologia. 



António Caetano de Abreu Freire nasceu em Avanca, Estarreja em Portugal, a 29 de Novembro de 1874.
O seu sobrenome foi alterado para Egas Moniz pelo padrinho, em honra ao aio do primeiro rei português, D. Afonso Henriques, e suposto antepassado da família.
António formou-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra em 1899, onde doutorou-se e depois tornou-se professor catedrático.
No entanto, foi na França que aperfeiçou seus conhecimentos trabalhando com grandes neurologistas da época nas Universidades de Bordeux e Paris.

Sua personalidade forte e determinada e o seu grande dom para a oratória marcaram a sua carreira, não só como professor e investigador, mas também como político. Desde os tempos de estudante que nutria uma atividade política intensa, tendo exercido cargos de Deputado no parlamento português, ministro das Relações Exteriores da Primeira República e Embaixador em Espanha. 

Quando em 1919 abandonou a vida política, passou a dedicar-se inteiramente à neurologia na Faculdade de Medicina de Lisboa, e começou a desenvolver as técnicas de angiografia cerebral e lobotomia.

Ao dar visibilidade às artérias do cérebro através da injeção intravascular de uma substância opaca ao Raio X,  abriu as portas para localizar neoplasias, aneurismas, hemorragias e outras mal-formações no cérebro humano, que mudou o paradigma do diagnóstico, cirurgias e tratamento das doenças neurológicas. 
O desenvolvimento da angiografia cerebral trouxe-lhe respeito e reconhecimento de toda comunidade científica internacional, e duas indicações ao Prêmio Nobel.

Após a angiografia cerebral, Egaz Moniz continuou a investigar mais e mais os problemas mentais. Em 1936, desenvolveu a técnica conhecida como leucotomia ou lobotomia que ele usava para tratar doenças mentais, epilepsia e até dores de cabeça crónicas. O processo consistia numa incisão nas fibras nervosas que ligam o lobo frontal a outras regiões do cérebro, praticada através de oríficios feitos no crânio, daí resultando, em teoria, o fim do comportamento anormal do paciente. Esta intervenção cirúrgica valeu-lhe o Prémio Nobel de Medicina em 1949, partilhado com Walter Rudolf Hess.

Ao longo do tempo, a lobotomia foi muito contestada, pois apesar de diminuir os sintomas das doenças em alguns pacientes, provocava também alterações no comportamento das pessoas, tornando os pacientes mais apáticos. A partir dos anos 60 foi praticamente abandonada coincidindo com a descoberta de novos psicofarmcos que passaram a ser o tratamento de escolha para as doenças mentais.

Em 1939, Egaz Moniz foi atingido por um tiro, disparado por um paciente, e permaneceu na cadeira de rodas até sua morte em 1955.

António Egaz Moniz será sempre lembrado como um grande impulsionador de técnicas determinantes da imagiologia e da psicocirurgia.


Com mais de 300 títulos da sua autoria ou com a sua colaboração, Egas Moniz foi sem dúvida uma personalidade que marcou positivamente a história da medicina portuguesa. 
O seu artigo sobre a lobotomia é o mais citado dos artigos portugueses da primeira metade do século XX.



Mais informações:
http://cvc.instituto-camoes.pt/ciencia/p12.html
http://museuegasmoniz.cm-estarreja.pt/

Um comentário:

Anônimo disse...

«Em 1939, Egaz Moniz foi atingido por um tiro, disparado por um paciente, e permaneceu na cadeira de rodas até sua morte em 1955.» -- FALSO! Apesar da gravidade dos ferimentos (tiros na mão direita e tórax, com uma bala alojada na coluna dorsal), Egas Moniz recuperou por completo, sem qualquer sequela física, ou seja, não ficou paralítico. Vd. Antunes, João Lobo. Egas Moniz, Uma Biografia. Lisboa, Gradiva, 2010, p. 253