segunda-feira, agosto 15, 2011

As origens e evolução étnico-cultural dos PALOP (2) Guiné-Bissau

Na semana passada, começamos uma série para conhecer a enorme diversidade cultural e étnica dos Países Africanos de Lingua Oficial Portuguesa.Conhecemos Angola e Cabo Verde e hoje nos dedicamos à Guiné-Bissau, um país pequeno na costa ocidental da África cujas raizes nativas ainda são bastante fortes.

Mapa etnográfico da Guiné-Bissau (1950)
A Guiné-Bissau foi parte do Império Mali, localizado no noroeste da África, que teve seu apogeu durante os séculos XIII e XIV. Um dos três grandes Impérios Africanos que dominaram a região.

O primeiro foi o Império de Songhai que dominou a região do rio Níger. O segundo foi o Império de Gana que foi desaparecendo com a imposição dos berberes e muçulmanos até que em 1240, o rei do Mali, Sundiata Keita, os conquistou erguendo o Império de Mali, considerado o maior o maior de todos os impérios medievais africanos.
O Império teve seu apogeu no início do século XIV com o governo de Mansa Mussa, que converteu todo o Império para o Islamismo. Em sua peregrinação a Meca (como costume de um islã), Mansa Mussa fez-se acompanhar de cerca de 15 mil homens, 100 camelos e uma expressiva quantidade de ouro.
Nessa peregrinação ele trouxe para  o Mali vários mercadores e sábios que ajudaram na divulgação da religião islâmica. Aos poucos, a capital do Império passou a ser um grande centro comercial e um grande centro de estudos religiosos. O Império Mali controlava as rotas comerciais transaarianas da costa sul ao norte. Dentre os principais produtos comercializados estavam o ouro, o sal, o peixe, o cobre, escravos, couro de animais, nós de cola e cavalos.

Foi somente no século XIX que os portugueses assumiram pleno controle do território da Guiné-Bissau.

Este percurso histórico contribuiu para uma grande diversidade étnica, linguística, cultural e social na Guiné-Bissau, cujos principais grupos étnicos africanos são:
· Balante - representam aproximadamente 30% da população e são o maior grupo étnico da Guiné-Bissau, divididos em 4 sub-grupos. Estão concentrados na região central do país e são conhecidos como "aqueles que resistem". Os Balante migraram da região do Egito, Etiópia e Sudão para a Guiné-Bissau entre os séculos X e XIV, espalhando-se pelo território durante o século XIX, procurando escapar à expansão de outros reinos.
A sua organização social dificultou a colonização portuguesa.
Embora o Cristianismo e sobretudo o Islamismo sejam praticados, as crenças dos Balante são em grande parte animistas.
· Fulani - formam 20% da população e se encontram mais ao norte. Estão distribuídos por vários países como a Nigéria, o Mali, Camarões e o Senegal e são considerados o maior grupo nómade do mundo.
São descendentes de povos nómadas do norte de África e África sub-sahariana, tendo sido dos primeiros povos a converter-se ao Islamismo, estabelecendo-se com uma grande força religiosa, política e económica na África ocidental.
São hoje um grupo bastante heterogéneo devido à mistura e integração de outros povos ao longo do tempo.
· Manjacos (14%) - denominados entre si de manjaku, falam o Manjaku e habitam as ilhas de Pecixe e Jata e as margens dos rios Cacheu e Geba, na região centro e norte da Guiné-Bissau. Dedicam-se sobretudo à agricultura e as suas crenças são maioriariamente animistas, embora também existam muçulmanos e cristãos.
· Mandinka (13%) - são um dos maiores grupos étnicos africanos, com cerca de 11 milhões de pessoas. Maioritariamente muçulmanos, os Mandinka são originários do Império do Mali. Hoje habitam vários países de África Ocidental como a Guiné-Bissau, Gâmbia, Serra Leoa, Costa do Marfim, Senegal, Burkina Faso, etc. Durante os séculos XVI a XVIII aproximadamente um terço da população Mandinka foi enviada como escravos para as Américas, pelo que muitos afro-americanos nos EUA descendem dos Mandinka.
A aprendizagem entre os Mandinka é sobretudo feita através da tradição oral e de histórias, canções e provérbios, tendo os anciãos um papel importante enquanto líderes e transmissores de conhecimento.
Entre os Mandinka é comum as crianças receberem o nome de alguém importante na sua família.
 · Papel representam 7% da população e se encontram nas áreas costeiras. Devido à sua localização foram juntamente com os Manjacos, os Balanta e os Jola, muito afetados pela exploração européia de escravos nos séculos XV e XVI.

Outro povos e grupos étnicos do país incluem:
· Bassari - falam o-niyan como língua e as suas crenças são predominantemente animistas. Os Bassari são próximos dos Fula.
· Jola - entre esta etnia é comum a poligamia e as relações familiares são bastante fortes assim como os casamentos arranjados entre as famílias. Suas crenças são maioritariamente islamistas, ainda que mantenham muitas das crenças tradicionais africanas.
 Embora não exista formalmente um sistema social de divisão de castas, os Jola ~se agrupam em diversos clãs, com nomes específicos. Sobrevivem basicamente da agricultura, especialmente a cultura de arroz, e há uma separação entre as tarefas atribuídas aos homens e às mulheres.
· Mankanya - falam o Mankanya e são sobretudo Católicos, embora mantenham as suas crenças animistas.

 · Bijagó fazem parte de arquipélago com 88 ilhas ao largo da costa da Guiné-Bissau. A maioria das ilhas é desabitada e a população fala maioritariamente o Bijagó e pratica religiões animistas. São profundamente crentes e dedicam cerca de cem dias por ano a rituais religiosos. O arquipélago conta com ampla autonomia administrativa. 
A ilha de Orango, a mais distante do continente tem uma sociedade matriarcal onde as mulheres escolhem os maridos ao cozinhar-lhes um prato (tradicionalmente peixe) que, sendo aceite e comido pelo pretendido, se torna o selo da união.

A Guiné-Bissau possui também uma população minoritária mulata originária de Cabo Verde.








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