quarta-feira, outubro 19, 2011

Determinantes Sociais da Saúde: reunindo-se para combater as inequidades

Começa hoje, dia 19 de outubro a Conferência Mundial sobre os Determinantes Sociais da Saúde (DSS) promovida pela Organização Mundial da Saúde e o Governo do Brasil para discutir as iniquidades em saúde e possíveis intervenções para combatê-las.


        Imaginemos duas crianças nascidas no mesmo dia de 2000 na África do Sul. Tameka é negra, nascida em uma família pobre na zona rural. Sua mãe não tem educação formal. Pieter, por sua vez, é branco, nascido de uma família rica, da Cidade do Cabo. Sua mãe completou a formação universitária em um prestigiosa instituição de ensino sul-africana.
       No dia do seu nascimento, os dois bebês não carregavam nenhuma responsabilidade pela sua situação: sua etnia e gênero, rendimento financeiro,  nível de escolaridade dos pais, localização rural ou urbana da casa. Ainda assim, estas variáveis irão exercer uma influencia maciça na vida em que irão levar.
      A probabilidade que Tameka morra no primeiro ano de vida é de 7.2% enquanto que a probabilidade que Pieter morra no primeiro ano de vida é de 3%. 

Imagina-se que a saúde de Tameka ao nascimento era mais frágil, devido à má-nutrição de sua mãe ao longo da gestação. Enquanto Pieter pode esperar viver até completar 68 anos, a expectativa de vida de Tameka é de apenas 50 anos.


        Podemos concluir que as oportunidades que essas duas crianças tem de atingir seu máximo potencial humano é vastamente diferente mesmo antes de nascerem, por fatores para os quais estas duas crianças não tem a menor responsabilidade.
       Vamos imaginar que, mesmo contra todas as adversidades, Tameka chegue aos 25 anos e tenha uma grande ideia para um negócio, digamos uma inovação que permita um aumento na produção de agricultura. Ela teria uma dificuldade muito maior de conseguir empréstimos a juros razoáveis. Já Pieter, tendo uma idéia igualmente inovadora  (digamos, o desenho de um novo software) obteria crédito muito mais facilmente, tanto por possuir diploma universitário mas também provavelmente pelos seus contatos e influências.
        Por mais abismais que sejam, as diferenças entre as condições de vida de Pieter e Tameka não são tão expressivas quanto as disparidades entre as performances média dos sul-africanos e de cidadãos de países desenvolvidos.

 Vamos colocar mais uma peça na mesa: Sven, um menino nascido na mesma data, no seio de uma família de classe média na Suécia. Suas chances de morrer ao longo do primeiro ano de vida é ínfima (0.3%) e ele pode esperar viver até os 80 anos de vida – 12 anos a mais do que Pieter e mais de 30 anos a mais do que Tameka.
Ele provavelmente completará 11.4 anos de estudo – 5 anos a mais do que a média sul-africana. As diferenças na escolaridade também se expressam qualitativamente: na oitava série, Sven pode esperar obter uma nota de 500 num teste internacional de matemática, enquanto a média de uma criança freqüentadora de escolas sul-africanas é de 264 pontos.
                  Adaptado de "World Development Report", World Bank, 2006
       


As disparidades na trajetória dessas três crianças encontram suas raízes em fatores que independem da vontade individual e que estão presentes desde o nascimento: etnia, nacionalidade, gênero e, principalmente, classe sócio-econômica. Esse caso fictício, porém tão plausível, exemplifica como o estrato social ao qual um indivíduo pertence irá condicionar o seu acesso a oportunidades e recursos, refletindo-se na sua capacidade de conduzir uma vida saudável e frutífera.
       A relação entre o ambiente social e suas consequências na saúde é explicada pelos Determinantes Sociais da Saúde (DSS): um grupo de condições de vida às quais os indivíduos estão submetidos e que influenciam decisivamente o seu estado de saúde e bem-estar.
A posição socioeconômica determina o acesso à riqueza, poder, bens, serviços e conhecimento. Esses fatores estabelecem as condições materiais a qual uma pessoa será submetida. Essas circunstâncias de vida - tais como moradia, transporte, condições de trabalho e lazer, alimentação, acesso a serviços de saúde e educação - irão determinar o grau de vulnerabilidade desse indivíduo ao adoecimento, bem como a sua capacidade de restabelecer e manter a sua saúde.

Com isso em mente, foi convocada pela OMS a Conferência Mundial sobre os DSS.


Mais informações: http://cmdss2011.org/site/

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