25 e 26 de outubro de 2007
A uma pergunta aparentemente tão singela como «a ciência terá limites?», só se pode responder de modo igualmente singelo: − Depende.
Isto é, os limites dependem da maneira como a ciência é encarada, pois a ciência resulta da tentativa de melhor compreender a realidade em que nos encontramos imersos, uma realidade tão multifacetada quanto complexa.
Em primeiro lugar, a ciência pode ser considerada como um domínio do conhecimento. Nesta perspectiva, a ciência dedica-se ao estudo dos fenómenos da natureza e das suas interacções. Sendo o universo infinito, o processo de o apreendermos não pode ser limitado. O progresso da ciência, neste quadro, não conhece limites.
Mas podemos igualmente observar que sendo a ciência um domínio do conhecimento, ela exprime-se e comunica-se de maneira semelhante à dos outros domínios, isto é, usando linguagens especializadas. Nestes termos, a precisão da descrição da realidade e dos seus fenómenos está condicionada à pertinência dessas linguagens e dos seus componentes (a música, por exemplo, não se traduz bem por palavras). Nesta perspectiva, os limites surgem da incapacidade de inventar novas linguagens.
Por outro lado, a especialização crescente acarreta uma progressiva fragmentação das disciplinas científicas e um distanciamento cada vez maior em relação aos outros domínios do conhecimento. Os limites da ciência corresponderão neste caso às fronteiras cognitivas dos outros domínios, que serão tanto mais inultrapassáveis quanto o esforço de comunicação interdisciplinar se tornar desaconselhado, ou mesmo proscrito.
Mas a ciência não se pode fazer, nem praticar, sem cientistas. Nesta medida, poder-se-á afirmar que os limites societais impostos à liberdade de acção das comunidades científicas serão determinantes para o desenvolvimento futuro da ciência. Essas barreiras, resultantes das percepções sobre o valor da ciência para as economias e as sociedades em que essas comunidades se inserem, são uma das mais fortes condicionantes das nossas possibilidades de adaptação e de ajustamento a novas situações e condições de vida.
Espero, com esta enumeração simples de limites, condições, barreiras e constrangimentos, ter despertado o apetite e o interesse para a discussão das várias atitudes e posições que não deixarão de ser apresentadas pelos oradores convidados na Conferência Internacional de 25 e 26 de Outubro próximo. Veremos certamente como as humanidades, as ciências sociais e os diversos ramos da ciência encaram a questão posta consoante as estratégias de descoberta e as visões do mundo de que são portadoras.
Sobretudo, esta oportunidade de diálogo deverá permitir uma reflexão sobre o limite fundamental da nossa aventura como espécie biológica no planeta − a imaginação. Porque é a imaginação que nos faz sonhar. E transformar os sonhos em realidade.
JOÃO CARAÇA
Isto é, os limites dependem da maneira como a ciência é encarada, pois a ciência resulta da tentativa de melhor compreender a realidade em que nos encontramos imersos, uma realidade tão multifacetada quanto complexa.
Em primeiro lugar, a ciência pode ser considerada como um domínio do conhecimento. Nesta perspectiva, a ciência dedica-se ao estudo dos fenómenos da natureza e das suas interacções. Sendo o universo infinito, o processo de o apreendermos não pode ser limitado. O progresso da ciência, neste quadro, não conhece limites.
Mas podemos igualmente observar que sendo a ciência um domínio do conhecimento, ela exprime-se e comunica-se de maneira semelhante à dos outros domínios, isto é, usando linguagens especializadas. Nestes termos, a precisão da descrição da realidade e dos seus fenómenos está condicionada à pertinência dessas linguagens e dos seus componentes (a música, por exemplo, não se traduz bem por palavras). Nesta perspectiva, os limites surgem da incapacidade de inventar novas linguagens.
Por outro lado, a especialização crescente acarreta uma progressiva fragmentação das disciplinas científicas e um distanciamento cada vez maior em relação aos outros domínios do conhecimento. Os limites da ciência corresponderão neste caso às fronteiras cognitivas dos outros domínios, que serão tanto mais inultrapassáveis quanto o esforço de comunicação interdisciplinar se tornar desaconselhado, ou mesmo proscrito.
Mas a ciência não se pode fazer, nem praticar, sem cientistas. Nesta medida, poder-se-á afirmar que os limites societais impostos à liberdade de acção das comunidades científicas serão determinantes para o desenvolvimento futuro da ciência. Essas barreiras, resultantes das percepções sobre o valor da ciência para as economias e as sociedades em que essas comunidades se inserem, são uma das mais fortes condicionantes das nossas possibilidades de adaptação e de ajustamento a novas situações e condições de vida.
Espero, com esta enumeração simples de limites, condições, barreiras e constrangimentos, ter despertado o apetite e o interesse para a discussão das várias atitudes e posições que não deixarão de ser apresentadas pelos oradores convidados na Conferência Internacional de 25 e 26 de Outubro próximo. Veremos certamente como as humanidades, as ciências sociais e os diversos ramos da ciência encaram a questão posta consoante as estratégias de descoberta e as visões do mundo de que são portadoras.
Sobretudo, esta oportunidade de diálogo deverá permitir uma reflexão sobre o limite fundamental da nossa aventura como espécie biológica no planeta − a imaginação. Porque é a imaginação que nos faz sonhar. E transformar os sonhos em realidade.
JOÃO CARAÇA
Informação enviada por Rita Rebelo de Andrade
Serviço de Ciência - email - randrade@gulbenkian.pt
Tel. (00351) 21782 3525 /Fax (00351) 21782 3019
Serviço de Ciência - email - randrade@gulbenkian.pt
Tel. (00351) 21782 3525 /Fax (00351) 21782 3019
Nenhum comentário:
Postar um comentário