MOÇAMBIQUE - Sousa Domingos Chilaúle
Nasci na província de Gaza, no sul de Moçambique, mas mudei para a capital com apenas dois meses de vida. Hoje tenho 32 anos.
Cresci na periferia da cidade de Maputo, no bairro de Minkadjuine, onde moro até hoje. Devido às difíceis condições financeiras, interrompi os estudos quando frequentava o quinto ano do ensino básico, hoje sexta classe.
É difícil saber exactamente como apanhei o vírus, mas antes de adoecer, era um jovem muito alcoólico e gostava de frequentar lugares nocturnos. É fácil estar vulnerável nessa situação. Certamente me envolvi, sem protecção, com uma mulher infectada.
Os primeiros sintomas da SIDA começaram a surgir em 1996. Tinha uma malária resistente e sofria de tuberculose. Em Abril de 2000 um médico do Hospital Geral de Chamanculo, em Maputo, aconselhou-me a fazer o teste e o resultado foi positivo. Minha vida transformou-se num pesadelo.
Naquela época, a discriminação em Moçambique era maior. Acreditava-se que SIDA era igual a morte e eu ia dormir toda noite a pensar que no dia seguinte ia morrer. Muitas vezes pensei em suicidar-me. Felizmente minha mãe esteve sempre do meu lado.
Quando fiz o teste, ainda não havia tratamento antiretroviral em Moçambique, pelo menos não para pessoas sem dinheiro. Só comecei com os ARVs em 2003, graças à organização internacional Médicos Sem Fronteiras. No início do tratamento os medicamentos provocaram-me prisão dos músculos, desarticulação e cansaço, mas eram efeitos colaterais passageiros da dosagem. Depois de duas semanas comecei a sentir-me bem. À medida que o tempo passava, meu corpo ia evoluindo. Cheguei a pesar entre 45 a 50 quilos, agora estou a pesar 75. O tratamento deixou-me com esperanças. Este é o quinto ano sem interromper a medicação.
Momentos de discriminação
Hoje a SIDA já não devia ser tabu para ninguém, mas infelizmente muitas pessoas continuam a discriminar. O comportamento das pessoas do meu bairro, por exemplo, mostra que elas ignoram ou não percebem a epidemia. Eu vivi muitos momentos de discriminação. Quando estava muito doente, os vizinhos consideravam-me um perigo à saúde deles. Queriam-me sempre longe. Até na igreja, certos fiéis chegavam ao ponto de abandonar o banco quando eu me sentasse ao lado. Isso foi muito forte. A nível nacional há também essa tendência de dar uma resposta negativa à epidemia.
Mas é preciso alertar que Moçambique é um país com diversidades culturais, religiosas e linguísticas. Para mim a comunicação não tem sido eficiente. As mensagens são muito generalistas e ignoram os aspectos culturais particulares de cada comunidade.
Hoje me dedico ao aconselhamento de seropositivos e dou palestras em escolas e universidades. Sou fundador e vice-presidente do Xirilu Xa Kudumba (Pranto de Esperança), uma associação de pessoas vivendo com HIV e SIDA. Sou solteiro e não tenho filhos ainda.
Há quatro anos perdi minha namorada, vítima de SIDA. Agora namoro outra rapariga que conheço a partir da Organização Médicos Sem Fronteiras, onde ambos trabalhamos como activistas.
Eu decidi assumir-me porque percebi que só assim os outros terão mais força e não vão olhar a epidemia como coisa do outro mundo. Sou mensageiro, ajudo a muita gente, e isso me faz muito feliz.
Notícia completa e mais informações: http://www.plusnews.org/pt/Report.aspx?ReportId=76505
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