Passados 16 anos desde a assinatura, Portugal finalmente aprovou o acordo ortográfico, que unifica a forma como é escrito o português nos países de lingua portuguesa.
As mudanças na forma de escrever o idioma em Portugal vão valer dentro de seis anos, enquanto no Brasil os livros escolares deverão ser mudados até 2010. Os estudos lingüísticos que basearam o acordo indicam que os portugueses terão mais modificações do que os brasileiros.
O dicionário português terá de trocar 1,42% das palavras, enquanto no Brasil apenas 0,43% sofrerão mudanças.
Para os portugueses, caem as letras não pronunciadas, como o "c" em acto, direcção e selecção, e o "p" em excepto. A nova norma acaba com o acento no "a" que diferencia o pretérito perfeito do presente (em Portugal, escreve-se passámos, no passado, e passamos, no presente).
Algumas diferenças vão continuar
Em Portugal, ''polémica'' e ''génesis'' manterão o acento agudo - o Brasil continuará escrevendo com o circunflexo.
Os portugueses manterão o "c" em facto - fato em Portugal é roupa - e vão tirar o "p" que no país não é pronunciado na palavra recepção.
Aprovar as mudanças foi um longo processo. O conteúdo do acordo já tinha sido aprovado há 16 anos, mas não podia entrar em vigor sem que os Parlamentos ratificassem o protocolo modificativo.
O protocolo previa que o acordo entrasse em vigor quando três países aprovassem o acordo - e não todos os que falam o português, como estava no texto original. No ano passado, São Tomé e Príncipe foi o terceiro a aprovar o acordo, dando validade ao documento.
Para o governo português, a aprovação do acordo é o primeiro passo para existência de uma política internacional da língua portuguesa, que será anunciada quando Portugal assumir a presidência rotativa da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em julho deste ano.
Algumas alterações à ortografia da língua portuguesa
O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa prevê alterações numa língua partilhada por mais de 200 milhões de falantes de português espalhados por quatro continentes. Em causa está a alteração de 1,6% das palavras da variante luso-africana (que engloba Timor-Leste e Macau) e 0,5% das palavras da variante brasileira.
Novas letras no alfabeto
O k, o w e o y passam a constar do alfabeto da língua portuguesa que, assim, passará a ser formado por 26 letras. No fundo, não é tanto uma alteração mas antes a oficialização da prática corrente, já que utilizamos vulgarmente palavras com estas letras, sobretudo nos vocábulos derivados de nomes estrangeiros como kantiano, darwiniano, wagneriano, yoga.
Consoantes mudas
Esta será a maior alteração na ortografia da língua portuguesa, na variante luso-africana: são suprimidas as consoantes mudas, aquelas que não se pronunciam, tal como já acontece na variante brasileira.
Alguns exemplos:
· acto = ato
· colecção = coleção
· óptimo = ótimo
· Egipto = Egito
· baptismo = batismo
· peremptório = perentório ((nestes casos o "m" dá lugar a um "n".
Outro exemplo: (sumptuoso = suntuoso). Há no entanto excepções, nos casos em que a consoante se pronuncia:
· egípcio
· pacto
· ficção
· intelectual
· opção
E há palavras onde são admitidas ambas as grafias:
· aspecto e aspeto
· caracteres e carateres
· facto e fato
· sector e setor
· concepção e conceção
· corrupto e corruto
Hífenes - O hífen é eliminado nos seguintes casos:
- Quando o prefixo termina em vogal e o elemento seguinte começa por vogal diferente cai o hífen: autoestrada, antiaéreo;
- Quando o prefixo termina em vogal e o elemento seguinte começa por “s” ou “r” cai o hífen e dobra-se a consoante: antirreligioso, contrarrelógio, minissaia;
- Nas palavras começadas por “co”: coobrigação ou coocupante;
- No presente do indicativo do verbo haver: hei de, hás de, há de, heis de, hão de;
- Fim de semana, cor de vinho, sala de jantar ;
- Nos casos em que o prefixo termine com a mesma vogal que inicia o elemento seguinte: (micro-ondas e contra-almirante), excepto no caso de “co” (coobrigação ou coocupante);.
- Nas palavras compostas da área da botânica e da zoologia: couve-flor, formiga-branca.
pé-de-meia, cor-de-rosa, queima-roupa, ao deus-dará.
O acento circunflexo é eliminado
- Na terceira pessoa do plural do presente do indicativo e do conjuntivo dos verbos crer, dar, ler e ver (creem, deem, leem, veem em vez de crêem, dêem, lêem e vêem);
- Na palavra “pêlo” (pelo);
O acento circunflexo mantém-se
- Na terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do verbo poder (pôde);
- Na terceira pessoa do plural do presente do conjuntivo do verbo dar (dêmos);
- Nas palavras com ditongo “oi” (heroico, paranoico);
- Na palavra “pára” (para);
Outra alteração significativa diz respeito à utilização de maiúsculas e minúsculas, sobretudo nos nomes dos meses, das estações do ano e dos pontos cardeais:
Alguns exemplos:
Janeiro = janeiro
Fevereiro = fevereiro
Primavera = primavera
Verão = verão
Norte = norte
Sul = sul
Maiúscula facultativa:
- Títulos dos livros (As pupilas do senhor reitor ou As Pupilas do Senhor Reitor);
- Formas de tratamento (senhor professor ou Senhor Professor);
- Domínios do saber ou disciplinas escolares (matemática ou Matemática);
- Topónimos (Avenida da Liberdade ou avenida da liberdade);
Para saber mais:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/05/080516_portugues_reforma_jair_pu.shtml
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