Permitir que profissionais de saúde de nível médio em vez de médicos prescrevam tratamentos antiretrovirais (ART) é uma estratégia apelidada de deslocamento de tarefas e permitiu que Moçambique triplicasse o número de instalações que disponibilizam a medicação num espaço de 6 meses.
O relatório, publicado na última edição do "Journal of Acquired Immune Deficiency Syndromes", por Kenneth Sherr da Universidade de Washington e o Ministério da Saúde de Moçambique, concluíram que os pacientes de zonas rurais e áreas desfavorecidas também passaram a ter acesso a serviços que oferecem ART como resultado deste deslocamento de tarefas.
Pouco depois da independência em 1974 a maioria dos médicos - principalmente os de nacionalidade Portuguesa - partiram de Moçambique, deixando menos de 80 médicos no país para uma população de 10.6 milhões, à época. Desde então, o país tem dependido largamente dos chamados "técnicos de medicina" - clínicos não médicos, que passam por um treinamento de 30 meses - para desempenharem as tarefas clínicas e de gestão que geralmente seriam desempenhadas por médicos.
O ajuste estrutural dos programas na década de 1980 atingiu fortemente o sistema de saúde de Moçambique, forçando o encerramento de até 50% dos centros de saúde pública. A prevalência do HIV chegou a 15% em 2003, no entanto apenas 1% das pessoas tinham acesso a algum tipo tratamento; o governo mais uma vez olhou para os técnicos de medicina para preencherem esta lacuna.
Expansão rápida
"Como o número de médicos existentes era insuficiente para cobrir o largo número de instalações na época da expansão rápida, o plano nacional de saúde renovou seus esforços para treinar novos técnicos como elementos fundamentais da expansão da força de trabalho para os cuidados dos portadores de HIV", notou o relatório.
Em meados de 2006, a primeira onda de técnicos de medicina recém-formados já estava trabalhando na rede de saúde e cerca de um ano mais tarde, 167 centros em 147 distritos e municípios Moçambicanos já haviam aderido a esta nova forma de atender a população, especialmente voltada para o tratamento ARV.
Esta estratégia possibilitou a integração do tratamento ARV nos cuidados de saúde pública, de modo a aumentar a cobertura de atendimento à população em que médicos e técnicos trabalham juntos contra a infecção do HIV."
A implementação de técnicos de medicina recém-formados cria oportunidades para os trabalhadores de pequenas clínicas rurais que provavelmente continuarão a trabalhar em cuidados de saúde pública. "Além disso, o treinamento, o salário e os benefícios são menores para os técnicos de medicina do que para os médicos" para médicos", disse o autor.
Um esforço contínuo
Moçambique continua também a investir na formação de médicos. A entrada de estudantes na principal escola de medicina do país duplicou e existem duas outras escolas de medicina no país. De acordo com este estudo, a qualidade dos cuidados prestados por técnicos de medicina iguala-se ao serviço prestado por medicos.
Contudo, uma avaliação realizada com os técnicos de medicina concluiu que estes não estão suficientemente preparados para as suas atuais responsabilidades clínicas, especialmente onde os recursos e a força de trabalho em saúde são insuficientes.
Apesar disso, o relatório conclui que "usando um misto de médicos e técnicos de medicona, o sistema de saúde de Moçambique pode manter a expansão do tratamento ART para os portadores do HIV enquanto fortalece o sistema mais amplo de saúde pública".
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