sexta-feira, novembro 19, 2010

Kilombo, ochilombo, quilombolas

Quem são os Quilombolas?


Para certos povos Bantus de Angola, "kilombo" ou "ochilombo" era o local de repouso de povos nômades e de comerciantes.

E o que o Brasil tem a ver com isso?

Na época da escravidão no Brasil, a palavra QUILOMBO era usada para nomear as comunidades de escravos que se rebelavam, fugiam e se escondiam do restante da população.

Mas o que pouca gente sabe é que essas comunidades não eram compostas apenas por escravos fugidos. Havia também uma minoria de portugueses marginalizados, negros livres, indígenas e outras pessoas que se sentiam oprimidas pela colonização portuguesa.

O que caracterizava o quilombo não era o isolamento e a fuga, mas sim a resistência ao regime vigente e a possibilidade de ter autonomia.

Quilombo era, portanto, um movimento de transição da condição de escravo para a de camponês livre.

Quilombo dos Palmares

Quilombo dos Palmares
Este foi o maior quilombo do Brasil. Criado entre o fim do século XVI e início do século XVII, situava-se entre montanhas e precipícios onde hoje é o Estado do Alagoas (nordeste do Brasil). Este Quilombo foi a mais conhecida comunidade quilombola da história brasileira.

O Quilombo dos Palmares tornou-se um símbolo forte e poderoso de luta e resistência na então Capitania de Pernambuco.

No início da colonização portuguesa, 20 mil escravos trabalhavam nos engenhos de açúcar da Capitania de Pernambuco. Já na metade do século XVII, esta população escrava beirava as 50 mil pessoas.

Entre 1630 e 1650, a invasão holandesa no Brasil desencadeou uma guerra com os portugueses que fragilizou o controle dos escravos. Com isso, muitos puderam fugir de seus engenhos e formar diversos quilombos espalhados pelo nordeste brasileiro.

O Quilombo dos Palmares foi criado como uma espécie de confederação, unindo 9 quilombos localizados na mesma região. Estima-se que, em 1640, possuía cerca de 6 mil habitantes divididos em 9 aldeias, sendo que em 1670 foram contadas mais de 2 mil casas. Alguns ainda acreditam que a população de Palmares chegou a 20 mil pessoas em 1690.

Palmares contra o exército
A localização estratégica da comunidade facilitava o ataque a engenhos e povoações, com a finalidade de conseguir mantimentos e incentivar a fuga de outros escravos. Assim, sua população foi crescendo cada vez mais.

A prosperidade e capacidade de organização desse imenso quilombo representou uma enorme ameaça à ordem escravocrata da época. Ao longo de um século, os palmarinos resistiram à repressão das autoridades coloniais, derrotando cerca de 30 expedições.

A própria Coroa portuguesa tentou por muitas vezes negociar com estes quilombolas, que não cederam até a comunidade ser finalmente aniquilada por um exército de 6 mil homens em 1694. Essa longa guerra foi a maior rebelião contra a escravidão na América portuguesa.

Liderarada pelo bandeirante Domingos Jorge Velho, a expedição contra Palmares levou 45 dias para derrubar a primeira e principal aldeia, Macaco, matando 400 pessoas e capturando outras 500.

Zumbi dos Palmares
Dentre os que conseguiram fugir estava Zumbi, então líder do quilombo. Nascido em Palmares como homem livre, foi capturado aos 6 anos e vendido para um padre. Em 1670, já adolescente, escapou e retornou ao quilombo. 

Após a morte de seu tio e líder palmarino Ganga Zumba, tornou-se o chefe da comunidade. Como líder, Zumbi nunca aceitou nenhuma das tentativas portuguesa de acordo, acreditando que esta resistência estaria protegendo os interesses do seu povo quilombola.

Porém, em 20 de novembro de 1695 - 1 ano após a destruição do Quilombo dos Palmares - ele foi capturado e executado, e sua cabeça foi exposta em praça pública na cidade de Porto Calvo, Alagoas (nordeste do país), para desencorajar futuras rebeliões.

Apesar de destruído, Palmares seguiu a existir como símbolo de perigo à elite pernambucana. Por isso, os capitães-do-mato, homens livres que capturavam escravos fugidos, foram se tornando cada vez mais comuns.

O aumento da violência contra os escravos não impediu que outros quilombos surgissem, como foi o caso do Quilombo do Castainho. Fundada em Pernambuco por um grupo de negros que conseguiu fugir da guerra em Palmares, a comunidade ainda existe e hoje é composta de 206 famílias.

Quilombolas não foram, eles ainda são...

Mestiço, de Cândido
Portinari (1934)
Poucos sabem que as comunidades quilombolas existem até hoje, após 122 anos do fim da escravidão.

Atualmente, os quilombolas são uma mistura de negros, indígenas e brancos, dos quais muitos são cafuzos (mestiços de origem negra e indígena). Os quilombos atuais vivem à base da agricultura. Em Castainho, por exemplo, cultiva-se mandioca, milho, feijão e hortaliças.

Os quilombos passaram a ser foco de políticas públicas com a Constituição Federal do Brasil de 1988, que lhes garantiu o direito à propriedade definitiva das terras quilombolas.

Após muita discussão, em 2003 a legislação federal estabeleceu que a determinação de uma comunidade como quilombola advém do auto-reconhecimento (o Estado do Pará foi pioneiro nesse entendimento, ainda em 1999).

Hoje em dia, existem mais de 2.000 comunidades quilombolas no Brasil, em praticamente todos os estados. Só no Maranhão, elas somam 527, enquanto em Pernambuco, 120. Aos poucos, essas populações tem conseguido adquirir seus direitos, apesar de muito ainda precisar ser alcançado.

O Dia Nacional da Consciência Negra

Para promover a reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira, em 1960 o governo federal escolheu o dia 20 de novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra.

Para mais informações sobre as comunidades quilombolas, acesse o site da Comissão Pró-Índio de São Paulo.



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