quarta-feira, janeiro 19, 2011

Breve abordagem histórica a uma doença secular


"Peste cinzenta", "Tísica pulmonar" ou "Doença do peito", foram três entre as várias designações atribuídas ao longo da história, à doença infetocontagiosa que hoje conhecemos como Tuberculose.

Considerada uma das doenças mais antigas do mundo, existem evidências da sua presença desde tempos pré-históricos, em esqueletos humanos da época Neolítica e em múmias do antigo Egipto. 



Mycobacteirum tuberculosis
O microorganismo Mycobacterium tuberculosis responsável pela Tuberculose (TB), foi identificado e descrito no dia 24 de Março de 1882, por Robert Koch. Esta descoberta valeu-lhe o prémio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1905.

Em 1890, Koch anunciou como um possível tratamento para a doença, um extrato de Mycobacterium tuberculosis, ao qual atribuiu o nome de tuberculinaEmbora esta descoberta não se tenha revelado eficaz no tratamento da doença, contribui para o diagnóstico da mesma. 


Teste de Mantoux
Charles Mantoux desenvolveu as linhas de pensamento de Robert Koch e Clemens Pirquet e a tuberculina passou a constituir a base de um método de diagnóstico de TB, designado Teste de Mantoux.

Este teste ainda é amplamente utilizado e consiste na introdução por via intra-dérmica da tuberculina. Permite avaliar se o doente teve contacto com o Mycobacterium tuberculosis. 

A vacina BCG (bacilo de Calmette e Guerin), desenvolvida por Albert Calmette e Camile Guerin em 1913, representou um importante passo no que diz respeito à prevenção da doença. Foi usada pela primeira vez em 18 de Julho de 1921, na França.

A TB tornou-se no século XIX e no início do século XX, uma doença endémica, passando a constituir um problema de Saúde Pública. Era considerada uma doença social que se propagava com muita facilidade.

Foi uma doença idealizada em obras literárias e artísticas e identificada como uma doença de poetas e intelectuais. Influenciou alguns artistas do movimento literário conhecido como Romantismo, como Lord Byron (na Inglaterra) ou Álvares de Azevedo (no Brasil). A aparência pálida, "assombrada" dos que sofriam de TB é vista como influência nos trabalhos de Edgar Allan Poe e nas histórias sobre vampiros. 


"Mundo Fechado" -
 Agustina Bessa-Luís
A novela Mundo Fechado de Agustina Bessa-Luís tem como protagonista um jovem vítima de tuberculose.
No Brasil, no século XX, a doença influenciou muitas obras do poeta modernista Manuel Bandeira, nascido em 1886 e tuberculoso desde os dezoito anos, como o seu poema "Pneumotórax".

Outras vítimas famosas incluem: D. Pedro I do Brasil (IV de Portugal); George Orwell, escritor britânico; Vivien Leigh, atriz inglesa, vencedora de 2 Academy Awards, famosa pelo seu papel como Scarlett O'Hara na adaptação cinematográfica de "E Tudo o Vento Levou", de 1939.


Campanha de prevençâo
Em 1880, na Grã-Bretanha a TB tornou-se uma doença de notificação obrigatória tendo sido desenvolvidas campanhas de consciencialização como medida de prevenção da transmissão da doença.

Como parte do programa de controlo da doença, foram criados os chamados "sanatórios". Os doentes eram internados nestes centros, ficando completamente excluídos da sociedade. As medidas terapêuticas aplicadas eram baseadas no repouso e na permanência dos doentes ao ar livre e, em intervençôes cirúrgicas como o pneumotórax artificial.


No entanto, nenhum progresso no tratamento da doença foi alcançado, até que entre 1945-1960 com o desenvolvimento do antibiótico estreptomicina, o tratamento e não apenas a prevenção, se tornou possível. Apesar desta grande evolução, em 1952, surge a Isoniazida como o primeiro fármaco oral no tratamento da Tuberculose e, posteriormente surge a Rifampicina.

A utilização de antibióticos resultou em indíces de cura na ordem dos 95%. A evolução no tratamento e no controlo da TB foi positiva até à década de 1990, altura em que ressurgiu como uma das principais doenças infetocontagiosas. Nesta mesma altura, o aparecimento de uma nova epidemia, o VIH/SIDA, que enfraquecendo o sistema imunológico facilitava o desenvolvimento de TB, conduziu ao reaparecimento de formas graves de TB. O aparecimento de estirpes de bacilos resistentes aos tratamentos até então empregues conduziu à TB multi-resistente. Perante este agravamento, a Organização Mundial da Saúde acabou por declarar a doença como emergência mundial, em 1993.

Atualmente, com os avanços científicos e tecnológicos nesta área, aliados à existência de uma vacina e de um tratamento eficaz, tornou-se possível controlar a doença. No entanto, a tuberculose continua a ser um problema grave a nível mundial. Foi responsável pela morte de aproximadamente 1,7 milhões de pessoas em 2009 e 9,4 milhões de pessoas desenvolveram TB ativa no ano de 2010.Caso a doença seja precocemente detetada, garante-se um elevado sucesso no tratamento e uma diminuição da propagação da mesma.

Neste sentido, um novo teste de diagnóstico da TB foi desenvolvido.

De acordo com Mário Raviglione, Diretor do Departamento STOP TB, da Organização Mundial da Saúde, Este novo teste constitui um marco importante para o diagnóstico e tratamento da tuberculose. Além disso, representa uma nova esperança para os milhões de pessoas que estão em maior risco de tuberculose e de desenvolver doença multi-resistente”.


O teste permite um diagnóstico rápido e preciso da doença em menos de duas horas, comparativamente com os testes já conhecidos cuja obtenção de resultados pode levar até três meses. É um teste molecular, que para além da reduçâo do tempo de execuçâo da análise, precisão e sensibilidade na deteção da doença, é totalmente automatizado, sendo fácil e seguro de utilizar, podendo igualmente ser utilizado fora dos laboratórios convencionais.
 
A descoberta foi aprovada pela Organização Mundial da Saúde e, retrata uma importante evolução no diagnóstico laboratorial da TB.

Fontes:

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