Um conhecido quadro retrata uma mulher africana a andar na periferia duma grande cidade, vestida com seus panos coloridos:
Nas costas, como é tradicional, leva o caçula amarrado com o pano;
Pela mão leva, quase arrasta, outra criança e no ventre dilatado fermenta o próximo herdeiro (de quê?).
Na cabeça equilibra uma botija de gás (que vai encher no mercado ou, quem sabe, traz já cheia de regresso a casa para aquecer a comida).
Desta forma percorre muitos quilómetros, fugindo dos carros.
O marido, às vezes, não tem trabalho ou ganha pouco e espera com pouca paciência a comida que esta mulher vai fazer, enquanto se prepara para visitar a segunda ou a terceira esposa, ainda menos ocupadas.
A mulher africana (e não só) ocupa lugares nos Parlamentos, é membro de Governos, é empresária, trabalha muito nestas organizações onde está, mas quantas vezes tem a mesma hierarquia ou obtém o mesmo reconhecimento que os homens que aí estão?
A mulher é professora, cientista, motorista, artista... sim, acima de tudo artista ou não seria tudo isso.
Tem fama de chegar atrasada, às vezes engravida, ou não cumpre a 100% o que faz, e muita gente pergunta: porque não fica em casa e deixa um homem ocupar aquele trabalho?
Sim, se um inventor quisesse fazer uma máquina-mulher deveria ser ao mesmo tempo comboio, enxada, panela de pressão, varinha mágica, televisão, ferro de engomar, geleira, esferográfica...
Evelize Fresta
Vice-Ministra da Saúde de Angola
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