A contracepção, tema que gera tanta controvérsia por questões religiosas, culturais, políticas e individuais, vem sendo praticada há mais de 2000 anos.
Não é portanto um conceito da era moderna.
O Controle da natalidade e o infanticídio foram práticas bem documentadas desde a Mesopotâmia e o Antigo Egito. Um dos primeiros registros referindo-se a métodos de controle da natalidade data de cerca de 1850 aC que descreve o uso da goma arábica colocada dentro do canal vaginal. Pesquisas atuais confirmaram a qualidade espermicida da goma arábica que é um dos componentes das pomadas espermicidas.
Outros métodos de controle da natalidade mencionado no papiro de 1850 incluem a aplicação de substâncias gelatinosas para cobrir a entrada do útero e a lactação por tempo prolongado.
O pai da medicina, Hipócrates apregoava que a semente da cenoura selvagem era capaz de prevenir a gravidez e Aristóteles mencionava a utilização da Mentha Pulegium como anticoncepcional.
O uso de anticoncepcionais feitos de plantas naturais era tão difundido na região do Mediterrâneo que no século II A.C., Políbio escreveu que as "famílias gregas estavam limitando-se a ter apenas um ou dois filhos."
Os antigos egípcios também utilizavam tampões vaginais ou óvulos feitos com substâncias naturais ácidas como excremento de crocodilo, linho e folhas comprimidas que lubrificados com mel ou óleo funcionavam como espermicida.
A anticoncepção masculina também era praticada na antiguidade. No século I A.C. Dioscórides afirmou que tomar extratos da madressilva durante 36 dias, poderia causar a esterilidade masculina.
No século XVII, quando foi estabelecida a relação do sêmen com a gravidez, o método anticoncepcional masculino mais conhecido era o coito interrompido, método citado na Gênesis que provocou a ira de Deus ao derramar suas sementes no chão.
Já na Ásia, as mulheres usavam papel banhado em óleo como um capuz cervical (primórdios do diafragma) e na Europa há relatos do uso da cera de abelha com o propósito de barrar a passagem do esperma.
O primeiro preservativo masculino
O Homem Sifilítico Albrecht Dürer (Berlin 1496) |
Acredita-se que o preservativo remonte aos tempos da Roma antiga, quando eram utilizadas bexigas de animais para proteção contra as doenças sexualmente transmissíveis.
Preservativo feito por volta do ano 1900 |
Os envoltórios ou preservativos de linho foram descritos em 1564 pelo anatomista italiano Falópio. No século XVIII, pedaços das vísceras de animais eram utilizadas para produzir os chamados "preservativos de pele".
Usava-se uma tira de intestino de animal amarrado ao pênis. No entanto, não era um método popular ou eficaz. Contudo este método de barreira veio revolucionar o conceito de mera contracepção, uma vez que, foi concebido tembém com o objetivo de evitar a transmissão da sífilis, infeção que na altura era uma doença crônica, incurável e devastadora.
A borracha vulcanizada inventada em 1844, impulsionou a fabricação de preservativos mais eficazes e o desenvolvimento do poliuretano facilitou o lançamento do primeiro preservativo feminino em 1992.
O diafragma
Diafragma de Mensinga |
A idéia do diafragma moderno surgiu com um alemão, Friedrich Adolf Wilde que em 1833 sugeriu que fosse feita impressão em cera da cérvice de cada mulher. A partir desse molde seria confeccionada barreira anticoncepcional de borracha. A idéia desta capa cervical não teve muito êxito inicialmente, porém em 1870, outro alemão, o Dr. Mensinga, inventou o diafragma, uma lâmina elástica que, ao cobrir a maior parte da parede vaginal, não precisava de ajuste prévio individual, o que contribuiu para sua rápida popularização.
Possivelmente, o primeiro dispositivo intra-uterino (DIU) foi usado em pacientes por Hipócrates há mais de 2500 anos, que inseria objetos no útero com a ajuda de tubo de chumbo. Entretanto, o primeiro DIU clinicamente aceito, a Alça de Lippes, só foi amplamente adotado em 1962.
Atualmente, existem dispositivos de cobre em diferentes formatos, entre os quais o mais popular é o em forma de "T".
A pílula anticoncepcional
Margaret Higgins Sanger americana nascida em 1833 fundou em 1914, a National Birth Control League dos Estados Unidos e, em 1916, abriu em Brooklyn, Nova York, a primeira clínica para o controle da natalidade.
A clínica foi fechada pela polícia e Margaret presa por trinta dias. Determinada fundou em 1921 a American Birth Control League, que não só sobreviveu como induziu o presidente da liga James F. Cooper, a fundar uma companhia dedicada a fabricar diafragmas para mulheres, tornando-as independentes do fato de os homens usarem ou não preservativos.
Uma nova incursão da polícia fechou a clínica em 1929, mas a incansável atividade de Margaret a levou, em 1951, a visitar um renomado biólogo da Fundação Worcester de Biologia Experimental, para pedir-lhe que investigasse as possibilidades de criar um contraceptivo que fosse efetivo e seguro, para liberar as mulheres e as conseqüências da maternidade desordenada e irregular.
Este Biólogo se chamava Gregory Goodwin Pincus (1903-1967), e havia estudado agricultura, genética e fisiologia da reprodução na Universidade de Harvard. Havia conseguido induzir, em coelhos da Índia, isto é, a reprodução sem concurso direto do macho.
A visita de Margareth Sanger, argumentando com cifras e sua larga experiência, causou tão profunda impressão em Gregory Pincus que este mudou radicalmente a orientação de seus estudos biológicos e, 2 anos depois, investigava os efeitos esterilizadores dos hormônios esteróides nos mamíferos.
No entanto a busca por um contraceptivo oral é anterior às pesquisas de Pincus. Um dos avanços biológicos do século XX havia levado a um melhor entendimento do processo da fecundação e seu mecanismo bioquímico. Em outras palavras, uma mulher grávida não pode engravidar de novo porque o óvulo fecundado se rodeia de hormônios inibidores que impedem uma nova ovulação. Portanto, se fosse possível produzir algum tipo de gravidez falsa da mulher, mediante a ingestão de hormônios e inibidores, por exemplo, se evitaria a fecundação.
A progesterona vinha sendo usada para desordens menstruais e para a prevenção de certas formas de aborto, porém sua obtenção era muito trabalhosa e cara.
O professor de química do Instituto Rockefeller da Pensilvânia, Russel E. Marker, estudando um grupo de esteróides, descobriu um processo de obtenção da progesterona e verificou que esses esteróides existiam em grande quantidade numa árvore silvestre mexicana. Vencendo obstáculos financeiros, Marker recolheu dez toneladas do fruto desta árvore e sintetizou 2.000 g de progesterona, que então custava US$80 o grama.
Com os doutores Chang e Rock na Fundação Worcester, Pincus descobriu os estrógenos e progestágenos, derivados da progesterona que mais inibiam a ovulação, e deles saiu a primeira pílula anticoncepcional.
O século XX havia reencontrado sua pílula reguladora da maternidade como uma de suas mais transcendentais invenções.
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