domingo, junho 23, 2013

A Revolução Laranja e a Deficiência de Vitamina A


A deficiência em vitamina A é a causa número um de cegueira na infância. Estima-se que, todos os anos, cerca de 670,000 crianças em todo o mundo morram em consequência da carência de vitamina A e que 350,000 percam a visão.

Uma forma que, governos e organizações não-governamentais encontraram para fazer frente a este problema, consiste na suplementação com vitamina A de crianças e mães imediatamente após o parto.

De fato, a suplementação com vitamina A é considerada a intervenção mais custo-efetiva para salvar a visão e a vida das crianças em risco.

O gasto associado, tendo em conta a importância dos resultados obtidos, é incrivelmente baixo – 1$ por criança por ano e representa o custo total do programa de suplementação!

A falta de vitamina A tem, igualmente, implicações no comprometimento do sistema imunológico, elevando o risco das crianças contraírem formas graves de malária, sarampo e doenças diarreicas.

Moçambique foi mais longe no combate à carência de vitamina A, dando início à Revolução Laranja!

Com a colaboração de diversas entidades, como o Centro Internacional da Batata, o Instituto de Investigação Agrária de Moçambique ou a Fundação Helen Keller International, uma onda laranja invadiu o país.

Desde cartazes na rua a t-shirts e bonés a cor laranja dominava. Programas de rádio, teatro de rua… em todos eles se ouviam as palavras laranja, visão e saúde.

Mas o que estaria a acontecer?

O país iniciou um plano para cortar o mal pela raiz. Como? Introduzindo mudanças no padrão alimentar das populações, de modo a aumentar a ingestão de vitamina A.

Então, no final dos anos 90, iniciou-se a operação da batata-doce de polpa alaranjada. Foram criadas em laboratório variedades de batata-doce, capazes de prosperar em diferentes condições, com elevados níveis de beta-caroteno – substância que o nosso organismo converte em vitamina A.

Pesquisas recentes revelam que 125g deste tipo de batata-doce fornece, a crianças no ensino primário, mais do dobro da dose diária recomendada de vitamina A.

Primeiro, escolheram-se as variedades que se davam bem nos solos moçambicanos. Depois, deu-se início a uma campanha de promoção junto dos agricultores e consumidores, de modo a que, progressivamente, a batata-doce de polpa branca fosse substituída pela de polpa alaranjada. As mulheres são treinadas na preparação de comidas ricas em vitamina A que, por sua vez, depois treinam outras mulheres. São dadas plantas, material de cultivo e conselhos sobre o uso de fertilizantes orgânicos aos trabalhadores agrícolas e à população em geral por intermédio das escolas.

Até novas receitas surgiram, como é o caso do “pão de ouro”. Na confecção deste pão, 38% da farinha de trigo – quase sempre importada e cara – é substituída por puré de batata-doce, dando origem a um pão dourado.
Os testes de sabor mostraram que o público tem uma grande preferência por este pão, devido à textura mais pesada, melhor sabor e um atractivo aspecto dourado.

A batata-doce de polpa alaranjada - de fácil cultivo, resistente à seca e com produção elevada – tornou-se numa moda capaz de salvar crianças da desnutrição e da cegueira.
Depois de Moçambique, outros países africanos (como a Zâmbia, o Malawi, a Tanzânia e o Quénia), iniciaram o seu combate à carência de vitamina A através do cultivo e consumo deste tipo de batata-doce.

Foi, também, graças a este projeto, que a Fundação Internacional Helen Keller foi distinguida com a atribuição do Prémio António Champalimaud de Visão 2009, no valor de um milhão de euros para ser gasto, sem restrições ou imposições, pela instituição. Nas palavras da presidente da Fundação Champalimaud, Leonor Beleza, são trabalhos como este que levam “luz à sombra e esperança à resignação a milhões de pessoas em África, especialmente em Moçambique, e na Ásia.”

Quando os suplementos de vitamina A deixarem de ser necessários, poderemos dizer “Missão Cumprida”!

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