Os surtos de EVD têm uma taxa de letalidade que chega aos 90% e atualmente, não existe tratamento nem vacina específica para tratar pessoas ou animais.
O Ébola apareceu, pela primeira vez, em 1976, em 2 surtos simultâneos, em Nzara, no Sudão, e em Yambuku, na República Democrática do Congo. Este último ocorreu numa aldeia situada perto do rio Ébola, que deu o nome à doença.
Neste momento, ocorre um surto na Guiné, com 127 casos, até ao dia 1 de Abril, tendo ocorrido já 83 mortes.
O género Ebolavirus é 1 de 3 membros da família Filoviridae (filovírus), juntamente com o género Marburgvirus e o género Cuevavirus. O género Ebolavirus compreende 5 espécies distintas:
1 Bundibugyo ebolavirus (BDBV)
2 Zaire ebolavirus (EBOV)
3 Reston ebolavirus (RESTV)
4 Sudan ebolavirus (SUDV)
5 Taï Forest ebolavirus (TAFV).
As espécies BDBV, EBOV e SUDV têm estado associadas a grandes surtos de EVD na África, mas não a RESTV e a TAFV. Os surtos do Ébola ocorrem, principalmente, em aldeias remotas da África Central e Ocidental, nas proximidades das florestas tropicais húmidas.
A espécie RESTV, encontrada nas Filipinas e na República Popular da China, pode infectar os humanos, mas até à data não foi notificada qualquer doença ou morte em humanos por ela provocada.
vírus do Ébola |
Transmissão
O Ébola é introduzido na população humana através do contato direto (através da pele gretada ou membranas mucosas) com sangue, secreções, órgãos ou outros fluidos corporais de animais infetados. Em África, a infecção tem sido documentada através do contacto com chimpanzés, gorilas, morcegos frugívoros, macacos, antílopes das florestas e porcos-espinhos infectados e encontrados com doença ou mortos na floresta tropical húmida.
O Ébola dissemina-se na comunidade através da transmissão entre humanos e a infecção resulta do contacto directo com o sangue, secreções, orgãos ou outros fluidos corporais de pessoas infectadas e contacto indirecto com ambientes contaminados com esses fluidos. Os funerais, em que os enlutados têm contacto directo com o corpo da pessoa falecida podem também ter o seu papel na transmissão do Ébola. Os homens que recuperaram da doença podem ainda transmitir o vírus através do sémen, até 7 semanas após a recuperação da doença.
Os profissionais de saúde são frequentemente infectados, quando tratam doentes com EVD suspeita ou confirmada. Isso ocorre através do contacto directo com os doentes, nos casos em que as precauções de controlo das infecções não são devidamente respeitadas.
Entre os trabalhadores em contacto com macacos ou porcos infectados com Reston ebolavirus, têm sido documentadas várias infecções em pessoas clinicamente assintomáticas.
Contudo, a única evidência disponível encontra-se em machos adultos saudáveis. Seria prematuro extrapolar os efeitos do vírus sobre a saúde para todos os grupos populacionais, tais como as pessoas imunocomprometidas, pessoas com condições médicas subjacentes, mulheres grávidas e crianças. São necessários mais estudos sobre o RESTV, antes de se poderem retirar conclusões definitivas sobre a patogenicidade e a virulência deste vírus em humanos.
Distribuição geográfica de surtos de febre hemorrágica do Ébola e morcegos da família Pteropodidae |
Sinais e sintomas
O EVD é uma doença viral aguda grave, muitas vezes caracterizada por início súbito de febre, fraqueza acentuada, dores musculares, dores de cabeça e dores de garganta. Estes sintomas são seguidos por vómitos, diarreia, erupção cutânea, funções renal e hepática diminuídas e, em alguns casos, hemorragias internas e externas. Os resultados laboratoriais incluem baixa contagem de leucócitos e de plaquetas, assim como aumento das enzimas hepáticas.
O período de incubação, isto é, o intervalo de tempo desde a infecção com o vírus até ao início dos sintomas, é de 2 a 21 dias.
Diagnóstico
Outras doenças que devem ser excluídas, antes de se poder fazer um diagnóstico de EVD, são: paludismo, febre tifóide, shigelose, cólera, leptospirose, peste, ricketsiose, febre recorrente, meningite, hepatite e outras febres hemorrágicas virais.
As infecções pelo vírus do Ébola podem ser definitivamente diagnosticadas num laboratório, através de vários tipos de testes:
• ensaio de imunoabsorção enzimática (ELISA)
• testes de detecção de antigénios
• teste de neutralização do soro
• ensaio de reacção em cadeia da polimerase via transcriptase reversa (RT PCR)
• isolamento do vírus por cultura de células.
As amostras colhidas nos doentes constituem um grande risco biológico, devendo os testes realizar-se em condições de contenção biológica máximas.
fonte de imagem |
Prevenção e tratamento
Não existe vacina para o EVD. Estão a ser testadas várias vacinas, mas não há nenhuma disponível para uso clínico.
Os doentes graves requerem cuidados médicos intensivos. Os doentes ficam frequentemente desidratados e necessitam de rehidratação oral com soluções que contenham electrólitos ou com fluidos intravenosos.
Não existe um tratamento específico, embora estejam a ser avaliadas novas terapêuticas medicamentosas.
Hospedeiro natural do vírus do Ébola
Em África, os morcegos frugívoros, particularmente a espécie dos géneros Hypsignathus monstrosus, Epomops franqueti e Myonycteris torquata, são considerados possíveis hospedeiros naturais do vírus do Ébola. Consequentemente, a distribuição geográfica dos vírus do Ébola pode coincidir com as variedades de morcegos frugívoros.
Vírus do Ébola em animais
Embora os primatas não humanos tenham sido uma fonte de infecção para os seres humanos, não são considerados como o reservatório, mas antes um hospedeiro acidental como os seres humanos. Desde 1994, têm-se observado surtos de Ébola causados pelas espécies EBOV e TAFV em chimpanzés e gorilas.
O RESTV tem causado graves surtos de EVD em macacos do género Macaca (Macaca fascicularis) criados nas Flipinas e detectado em macacos importados.
Desde 2008, têm sido detectados vírus RESTV durante vários surtos de doença mortal em suínos, nas Filipinas e na China. Têm sido notificadas infeções assintomáticas em suínos e inoculações experimentais têm demonstrado que o RESTV não pode causar doença nesses animais.
Prevenção
Controlar o Ebola Reston em animais domésticos
Não existe vacina para animais contra o RESTV. A limpeza e a desinfecção de rotina das criações de porcos ou macacos (com hipoclorito de sódio ou outros detergentes) deverão bastar para desactivar o vírus.
Se houver suspeita de um surto, as instalações devem ser imediatamente colocadas em quarentena. O abate dos animais infectados, com supervisão atenta do enterramento ou da incineração das carcaças, pode ser necessário para reduzir o risco de transmissão animal-a-humano. A restrição ou a proibição da deslocação de animais de criações infectadas para outras zonas poderá reduzir a propagação da doença.
Uma vez que os surtos de RESTV em porcos e macacos precederam as infecções nos humanos, a criação de um sistema activo de vigilância da saúde animal, para a detecção de novos casos, é essencial para alertar rapidamente as autoridades de saúde pública veterinária e humana.
Reduzir o risco de infecção das pessoas pelo Ébola
Na ausência de um tratamento eficaz e de uma vacina para seres humanos, a única forma de reduzir as infecções e a morte em humanos é sensibilizar as pessoas para os factores de risco da infecção pelo Ébola e para as medidas de protecção que se podem tomar.
Em África, durante os surtos de EVD, as mensagens educativas de saúde pública deverão incidir sobre vários factores:
• Reduzir o risco de transmissão animal-para-humano no contato com morcegos frugívoros ou macacos infectados e o consumo da sua carne crua. Os animais devem ser manipulados usando luvas e outro vestuário apropriado de protecção. Os produtos animais (sangue e carne) devem ser muito bem cozinhados, antes de serem consumidos.
• Reduzir o risco de transmissão entre humanos na comunidade que deriva do contato direto ou próximo com doentes infetados, particularmente com os seus fluidos corporais. O contacto físico íntimo com doentes de Ébola deve ser evitado. Devem usar-se luvas e equipamento apropriado de proteção pessoal, quando se cuida de doentes em casa. É obrigatório lavar as mãos regularmente, depois de se visitar doentes no hospital, assim como depois de cuidar de doentes em casa.
• As comunidades afectadas pelo Ébola devem informar a população sobre a natureza da doença e sobre as medidas de contenção do surto, incluindo o enterro dos mortos. As pessoas que morreram com o Ébola devem ser enterradas com rapidez e segurança.
Para o RESTV, as mensagens educativas de saúde pública devem incidir sobre a redução do risco de transmissão suíno-a-humano, como resultado de práticas não seguras de criação e abate de animais e do consumo de risco de sangue fresco, leite cru ou tecidos animais. Devem usar-se luvas e outro vestuário de protecção apropriado na manipulação de animais doentes ou dos seus tecidos, assim como no seu abate. Nas regiões em que foi notificado o RESTV em suínos, todos os produtos animais (sangue, carne e leite) devem ser muito bem cozinhados, antes de serem consumidos.
Controlar a infecção nas unidades de cuidados de saúde
A transmissão entre humanos do vírus do Ébola está associado, sobretudo, ao contato direto ou indireto com o sangue e os fluidos corporais. A transmissão aos agentes de saúde tem sido notificada, quando não são adoptadas medidas apropriadas de controlo da infecção.
Nem sempre é possível identificar com rapidez os doentes com EBV, porque os sintomas iniciais poderão não ser específicos. Por essa razão, é importante que os agentes de saúde apliquem as precauções padrão de forma consistente com todos os doentes, independentemente do seu diagnóstico, em todas as práticas de trabalho e em todos os momentos. Essas precauções incluem a higiene básica das mãos, a higiene respiratória, o uso de equipamento de protecção pessoal (contra o risco de salpicos ou outro contacto com materiais infectados), práticas seguras de injecção e práticas seguras de enterramento.
Os agentes de saúde que cuidam dos doentes com infeção suspeita ou confirmada pelo vírus do Ébola devem aplicar, além das precauções padrão, outras medidas de controlo da infecção, para evitar eventual exposição ao sangue ou fluidos corporais do doente e o contacto directo não protegido com um ambiente possivelmente contaminado. Quando em contato próximo (no raio de 1 metro) com doentes com EBV, os agentes de saúde devem proteger o rosto, usando uma viseira facial, uma máscara médica e óculos de protecção, uma bata limpa, não estéril, de manga comprida, e luvas (luvas esterilizadas para alguns procedimentos).
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A
OMS disponibiliza técnicos e documentação para apoiar a investigação e o
controlo da doença.
As
recomendações para controlo da infecção e prestação de cuidados aos doentes com
suspeita ou confirmação de febre hemorrágica do Ébola são apresentadas em: Recomendações
provisórias para controlo da infecção e cuidados aos doentes com suspeita ou confirmação de febre hemorrágica do Filovírus (Ébola, Marburgo), Março de 2008.
A
OMS criou um memorando sobre as precauções padrão nos cuidados de saúde (em
actualização). As precauções padrão destinam-se a reduzir o risco de
transmissão de agentes patogénicos transmitidos pelo sangue e outros. Quando
universalmente aplicadas, as precauções ajudam a prevenir, em grande parte, a
transmissão por exposição ao sangue e fluidos corporais.
As
precauções padrão são recomendadas nos cuidados e tratamento de todos os
doentes, independentemente do seu estado infeccioso aparente ou confirmado, e incluem
o nível básico do controlo de infecções: higiene das mãos, uso de equipamento
de protecção pessoal, para evitar o contacto directo com o sangue e fluidos
corporais, prevenção das picadas de agulhas e ferimentos causados por outros objetos
cortantes e um conjunto de medidas de controlo ambiental.
Para
mais informações, consulte (em inglês) : http://www.who.int/csr/disease/ebola/en/
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