segunda-feira, junho 28, 2010

Amílcar Cabral: entre Guiné-Bissau e Cabo Verde

ILHA

"Tu vives — mãe adormecida —
nua e esquecida,
seca,
fustigada pelos ventos,
ao som de músicas sem música
das águas que nos prendem…

Ilha:
teus montes e teus vales
não sentiram passar os tempos
e ficaram no mundo dos teus sonhos
— os sonhos dos teus filhos —
a clamar aos ventos que passam,
e às aves que voam, livres,
as tuas ânsias!

Ilha:
colina sem fim de terra vermelha
— terra dura —
rochas escarpadas tapando os horizontes,
mas aos quatro ventos prendendo as nossas ânsias!"

(poema de Amílcar Cabral, Praia, Cabo Verde, 1945)

Com apenas 17 anos, em 1941, este guineense, a viver em Cabo Verde, dava os seus primeiros passos na escrita.

Conhecedor dos anseios pela independência de seu atual país, Cabo Verde, decide transpor para o papel o que sente. Assinando com o pseudónimo de Larbac - anagrama do nome Cabral, inicia-se nos poemas de amor. Títulos como ''Quando Cupido acerta no alvo'', ''Devaneios'', ''Arte de Minerva'', "Ilha" entre outros, fazem parte de sua obra.

Com influências notoriamente clássicas, aprendidas no liceu que frequenta em Mindelo (Cabo Verde), inspira-se em nomes fortes da literatura como Gonçalves Crespo, Guerra Junqueiro e Casimiro de Abreu.


Amilcar Cabral nasceu a 12 de Setembro de 1924 em Bafatá, na Guiné-Bissau. Aos oito anos de idade, mudou-se com a família para Mindelo, na Ilha de São Vicente, em Cabo Verde.

Depois de completar os estudos secundários, foi trabalhar para a Imprensa Nacional e em 1945, aos 21 anos de idade, e graças a uma bolsa de estudos, foi aceito no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa.

Regressou a Bissau, em 1952, para trabalhar como agrônomo, porém três anos depois, o governador local obriga-o a ir embora.

Com idéias de lutar pela independencia de seu país, mudou-se para Angola e afiliou-se no Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e em 1959 ajudou a criar o Partido Africano da Independência da Guiné e de Cabo Verde em Bissau.
Em Janeiro de 1963, liderou uma luta armada com um ataque organizado ao aquartelamento de Tite, no sul da Guiné-Bissau.

Infelizmente, Amilcar Cabral não chegou a ver a independência de seu país ou de Cabo Verde, pois em 20 de Janeiro de 1973 foi assassinado em Conacri, base de seu partido (PAIGCV).

Nsta data, Cabo Verde comemora o Dia dos Heróis Nacionais em homenagem a este homem, que embora tenha nascido em outro país, tinha Cabo Verde no coração.

Independência da Guiné Bissau - 10 de setembro de 1974
Independência de Cabo Verde - 5 de julho de 1975

Para saber mais sobre a vida de Amilcar Cabral leia o livro "O Fazedor de Utopias, uma biografia de Amilcar Cabral", do escritor angolano, António Tomás.



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