Série Escritores da Língua Portuguesa: Mário Pinto de Andrade

MÁRIO PINTO DE ANDRADE

Um dos principais intelectuais e ativistas anti-colonialistas de Angola, Mário Pinto de Andrade (1928-1990) destacou-se como pioneiro na sociologia angolana e como presidente (1959-1962) e secretário-geral (1962-1972) do Movimento Popular de Libertação de Angola - MPLA.

Nascido em Ngolungo Alto, Angola, Mário mudou-se para Lisboa, Portugal, para estudar letras em 1948. Com Agostinho Neto e outros parceiros, fundou o Centro de Estudos Africanos em 1951 para promover atividades de disseminação da cultura africana.

Apesar da militância política e de exílios na França, Guiné Bissau e Cabo verde ao longo de sua vida, Mário dedicou-se fielmente aos estudos de sociologia e à atividade de diversas publicações antológicas e de obras literárias. Sua primeira publicação, Antologia da Poesia Negra de Expressão Portuguesa, se deu em 1958. Publicou muitos outros textos até sua morte em Londres em 1990.

Por sua importância literária e política e por ter sido o primeiro africano de língua portuguesa a escrever ensaios críticos da poesia afro-lusófona, o Ministério da Cultura de Angola criou há alguns anos o Prêmio bianual de Ensaio Literário Mário Pinto de Andrade.

CANÇÃO DE SALABU

Nosso filho caçula

Mandaram-no pra S. Tomé

Não tinha documentos

Aiué!

Nosso filho chorou

Mamã enlouqueceu

Aiué!

Mandaram-no pra S. Tomé

Nosso filho partiu

Partiu no porão deles

Aiué!

Mandaram-no pra S. Tomé

Cortaram-lhe os cabelos

Não puderam amarrá-lo

Aiué!

Mandaram-no pra S. Tomé

Nosso filho está a pensar

Na sua terra, na sua casa 

Mandaram-no trabalhar

Estão a mirá-lo, a mirá-lo

—Mamã, ele há-de voltar

Ah! A nossa sorte há-de virar

Aiué!

Mandaram-no pra S. Tomé

Nosso filho não voltou

A morte levou-o

Aiué!