terça-feira, janeiro 21, 2014

Um pouco da arte em São Tomé e Príncipe

A arte constitui um elemento essencial na cultura pelo fato de suas obras expressarem a realidade de um país. Falar da arte em São Tomé e Príncipe é falar de um fato recente, pois a mesma tem vindo a se afirmar dia após dia no país, essencialmente devido às dificuldades dos artistas em adquirirem os materiais (pincéis, tintas, telas etc.) necessários para poderem trabalhar.

Tchiloli - Canarim
Os artistas plásticos em São Tomé e Príncipe têm crescido ano após ano, depois de uma primeira fase em que os artistas plásticos eram totalmente desconhecidos. 


Ússua - Canarim
O nome que se tem como referência no país e na época colonial é o de Pascoal Viana de Sousa Almeida Viegas Lopes Vilhete (nascido no séc. XIX), conhecido como Canarim ou Sum Canalim

Pascoal Viana, que é referido como o maior pintor ingenuista de São Tomé e Príncipe, soube representar de maneira inigualável a sua época. A pintura de Canalim buscou estímulos nos ambientes físico e humano das ilhas. Em seus quadros, deixou uma pequena biografia, em caligrafia desenhada, ao lado das legendas em que explicava cuidadosamente o assunto dos quadros e as personagens que dele participavam

Selo de S. Tomé e Príncipe
Atualmente a situação das artes plásticas caracteriza-se pela afirmação de vários artistas que, embora enfrentem muitas dificuldades, têm o mérito de serem considerados os pioneiros do ramo no país, como é o caso de Protásio Pina que durante muito tempo foi quem "desenhou" e pintou os selos de São Tomé, lindos pássaros, flores para muitos desconhecidas e coisas maravilhosas de cor e de beleza.

Após esta fase, tem-se vindo a verificar uma enorme aderência por parte de jovens às artes plásticas. Esta mesma aderência tem contribuído muito para a afirmação dos mesmos no país e na classe artística, levando à dinamização do setor. Com os jovens adentrando nessa carreira, tem-se percebido a criação novos valores, o que permite a continuação e a preservação das artes plásticas no país. 

Alda Graça do Espírito Santo
No âmbito da literatura, a poesia é a forma de expressão literária mais desenvolvida em São Tomé e Príncipe. Francisco Tenreiro e Alda Graça do Espírito Santo estão entre os poetas publicados mais notáveis​​.  

Os acontecimentos históricos são muitas vezes o objeto da poesia local, como podemos perceber no  poema “Trindade”, de Alda Graça, que denuncia o massacre ocorrido em 5 de fevereiro de 1953 em Trindade, São Tomé e Príncipe; e no prórpio hino nacional escrito também por Alda.

Maria da Conceição Costa de Deus Lima, ou Conceição Lima, também é um expoente na literatura santomense, mas já escrevemos sobre ela aqui.

No que diz respeito à música, em São Tomé e Príncipe destacam-se as danças tradicionais Ússua e Socopé.

Ússua
A  Ússua é uma dança de origem Europeia, que posteriormente, foi adaptada pelo povo santomense.

Considerada uma dança de salão, realiza-se através de movimentos compassados e ritmos agradáveis, mediante uma interrelação entre homens e mulheres ao som de um instrumento de sopro, como a corneta, feita de madeira ou chifres de animais. Os dançarinos encontram-se sempre vestidos com trajes tradicionalmente santomenses.

Já o Socopé, conforme dito pelos santomenses, corresponde a pronúncia errada de "só com os pés ou só com o pé". Quanto a como e quando começou, ninguém sabe, mas, garante-se que, dentre todas as outras, é a dança mais genuinamente santomense.

As músicas têm um ritmo bastante lento, quase em tom de lamento, e os textos servem na maior parte das vezes para expor os principais problemas da comunidade ou para fazer crítica social ou de costumes.

Dançarina de Socopé
Ela é composta por duas partes: a feminina, e a masculina. As senhoras vestem quimonos (blusa tradicional de vários modelos, feitios, e cores, utilizadas pelas senhoras de S. Tomé e Príncipe, quer nos expedientes quotidianos, quer nas festas religiosas e populares) e saias. Por outro lado, os senhores usam nas camisas fitas e distintivos. Também as senhoras usam distintivos, que assumem a forma de bandas coloridas que lhes atravessa o peito, além de fitas atadas nos seus chapéus e lenços.

Confira abaixo o poema de Alda Graça do Espírito Santo entitulado Trindade:

Trindade

Eu chamo-me Cravid
E tenho um crime...
? Nasci na Trindade ?
A vida condenada.

Pintava casas
nas empreitadas da cidade.
Fui levado manhã cedo
e eles prenderam-me.

Fecharam meu corpo
Fechado de raiva
numa casa sem ar.

Camaradas de cela se cruzaram
camaradas de cela se juntaram...

E a porta de zinco ia abrindo
e sempre nascia uma esp’rança
de volver p’rá liberdade,
para o ar livre das ruas.

E a esperança saía
na porta fechada, cerrada
recebendo mais gente.
Aos vinte... trinta… quarenta…

Aos vinte, trinta, quarenta,
os gritos cresciam
as bocas secavam...
E a sede, a sede aumentava
e a gente morria sem ar...
E os tiranos zombavam no pátio.

Os gritos cresciam...
? Água, água, água...
Ar, ar!...
Num coro de morte
gritando p’la vida.

E a tarde caía
a noite chegava.
A gente morria...
Meia-noite, hora da morte...
Os coros subiam
na noite sinistra
e corpos humanos tombavam por terra.

? Ó velho, motorista Alfredo,
tu tombaste já...
Teu corpo inerte está livre
evadiu-se.
E tu, Lima,
Junto ao postigo
tu pediste ar
pediste vida
e o destino escarninho
tombou contigo no chão.
E o ar já não virá...

Um a um camaradas
um a um
no coro da angústia
se finaram, companheiros
no escuro de túmulos,
na eterna escuridão
da esperança morta.

E na manhã sinistra
de sexta-feira 6
nesse mês de Fevereiro
fatídico e cruel
eu ainda tinha vida...

Dezasseis, dezasseis homens
saíram tombando, erguendo a carcaça.
E eu fiquei.
Fiquei deitado.
Meu corpo caiu sobre os mortos
na primeira revolta.
E levantei-me.

De mim, saiu outro homem.
Eu levantei maluco
e corri à porta.
Eu gritei
p’la água que não vinha
p’la fome que tinha.

E escarrei ao carrasco
todo o fel, todo o fel
da revolta nascente.

E eles, eles, os tiranos
só ligaram meus membros
quando o corpo cansado o consentiu.

A revolta cresceu...
As lavas sufocaram os algozes
e as forças dos meus nervos
desataram as cordas.

A rebelião crescia
e os carrascos sem nome
atiraram contra mim.

E os tiros vieram
e eu resisti.
Eu não morri.

Juntos em redor de mim
cobriram de andalas meu corpo
e eu não morri.

Cresço em ondas de revolta
e estou ficando louco.

Deportaram-me
mas eu já voltei...
Meus olhos não param
e eu estou de pé.


Bibliografia:

http://stomepatrimonio.blogspot.ch/search/label/Artes%20Pl%C3%A1sticas
http://falcaodejade.blogspot.ch/2011/07/sao-tome-e-os-seus-artistas-comeco-com.html
http://www.vidaslusofonas.pt/alda_esp_santo.htm

2 comentários:

Santos Oliveira disse...

Documento interessante e precioso.

Abraço
Santos Oliveira

Tretas disse...

Tudo pela ausência de liberdade.