A arte constitui um elemento essencial na cultura pelo fato de suas obras expressarem a realidade de um país. Falar da arte em São Tomé e Príncipe é falar de um fato recente, pois a mesma
tem vindo a se afirmar dia após dia no país, essencialmente devido às
dificuldades dos artistas em adquirirem os materiais (pincéis, tintas, telas etc.) necessários para poderem trabalhar.
Tchiloli - Canarim |
Os
artistas plásticos em São Tomé e Príncipe têm crescido ano após ano, depois de uma primeira
fase em que os artistas plásticos eram totalmente desconhecidos.
Ússua - Canarim |
O nome que
se tem como referência no país e na época colonial é o de Pascoal Viana de Sousa Almeida Viegas Lopes Vilhete (nascido no
séc. XIX), conhecido como Canarim ou Sum Canalim.
Pascoal Viana, que é referido como o maior pintor ingenuista de São Tomé e Príncipe, soube
representar de maneira inigualável a sua época. A pintura de Canalim buscou
estímulos nos ambientes físico e humano das ilhas. Em seus quadros, deixou uma pequena biografia, em caligrafia desenhada, ao lado das legendas em que explicava cuidadosamente o assunto dos quadros e as personagens que dele participavam
Selo de S. Tomé e Príncipe |
Atualmente a situação das artes plásticas caracteriza-se pela afirmação de vários artistas que, embora enfrentem muitas dificuldades, têm o mérito de serem considerados os pioneiros do ramo no país, como é o caso de Protásio Pina que durante muito tempo foi quem "desenhou" e pintou os selos de São Tomé, lindos pássaros, flores para muitos desconhecidas e coisas maravilhosas de cor e de beleza.
Após esta
fase, tem-se vindo a verificar uma enorme aderência por parte de jovens às
artes plásticas. Esta mesma aderência tem contribuído muito para a
afirmação dos mesmos no país e na classe artística, levando à dinamização do
setor. Com os jovens adentrando nessa carreira, tem-se percebido a criação novos valores, o que permite a continuação e a
preservação das artes plásticas no país.
Alda Graça do Espírito Santo |
No âmbito da literatura, a poesia é a forma de expressão literária mais desenvolvida em São Tomé e Príncipe. Francisco Tenreiro e Alda Graça do Espírito Santo estão entre os poetas publicados mais notáveis.
Os acontecimentos históricos são muitas vezes o objeto da poesia local, como podemos perceber no poema “Trindade”, de Alda Graça, que denuncia o massacre ocorrido em 5 de fevereiro de 1953 em Trindade, São Tomé e Príncipe; e no prórpio hino nacional escrito também por Alda.
Maria da Conceição Costa de Deus Lima, ou Conceição Lima, também é um expoente na literatura santomense, mas já escrevemos sobre ela aqui.
No que diz respeito à música, em São Tomé e Príncipe destacam-se as danças tradicionais Ússua e Socopé.
Ússua |
A Ússua é uma dança de origem Europeia, que posteriormente, foi adaptada pelo povo santomense.
Considerada uma dança de salão, realiza-se através de movimentos compassados e ritmos agradáveis, mediante uma interrelação entre homens e mulheres ao som de um instrumento de sopro, como a corneta, feita de madeira ou chifres de animais. Os dançarinos encontram-se sempre vestidos com trajes tradicionalmente santomenses.
Já o
Socopé, conforme dito pelos santomenses, corresponde a pronúncia errada de "só
com os pés ou só com o pé". Quanto a como e quando começou, ninguém sabe, mas,
garante-se que, dentre todas as outras, é a dança mais genuinamente
santomense.
As músicas têm um
ritmo bastante lento, quase em tom de lamento, e os textos servem na maior
parte das vezes para expor os principais problemas da comunidade ou para fazer
crítica social ou de costumes.
Dançarina de Socopé |
Ela é composta por duas partes: a feminina, e a
masculina. As senhoras vestem
quimonos (blusa tradicional de vários modelos, feitios, e cores, utilizadas
pelas senhoras de S. Tomé e Príncipe, quer nos expedientes quotidianos, quer
nas festas religiosas e populares) e saias. Por outro lado, os senhores usam
nas camisas fitas e distintivos. Também as senhoras usam distintivos, que
assumem a forma de bandas coloridas que lhes atravessa o peito, além de fitas
atadas nos seus chapéus e lenços.
Confira abaixo o poema de Alda Graça do Espírito Santo entitulado Trindade:
Trindade
Eu chamo-me Cravid
E tenho um crime...
? Nasci na Trindade ?
A vida condenada.
Pintava casas
nas empreitadas da
cidade.
Fui levado manhã cedo
e eles prenderam-me.
Fecharam meu corpo
Fechado de raiva
numa casa sem ar.
Camaradas de cela se
cruzaram
camaradas de cela se
juntaram...
E a porta de zinco ia
abrindo
e sempre nascia uma
esp’rança
de volver p’rá
liberdade,
para o ar livre das
ruas.
E a esperança saía
na porta fechada,
cerrada
recebendo mais gente.
Aos vinte... trinta…
quarenta…
Aos vinte, trinta,
quarenta,
os gritos cresciam
as bocas secavam...
E a sede, a sede
aumentava
e a gente morria sem
ar...
E os tiranos zombavam
no pátio.
Os gritos cresciam...
? Água, água, água...
Ar, ar!...
Num coro de morte
gritando p’la vida.
E a tarde caía
a noite chegava.
A gente morria...
Meia-noite, hora da
morte...
Os coros subiam
na noite sinistra
e corpos humanos
tombavam por terra.
? Ó velho, motorista
Alfredo,
tu tombaste já...
Teu corpo inerte está
livre
evadiu-se.
E tu, Lima,
Junto ao postigo
tu pediste ar
pediste vida
e o destino escarninho
tombou contigo no
chão.
E o ar já não virá...
Um a um camaradas
um a um
no coro da angústia
se finaram,
companheiros
no escuro de túmulos,
na eterna escuridão
da esperança morta.
E na manhã sinistra
de sexta-feira 6
nesse mês de Fevereiro
fatídico e cruel
eu ainda tinha vida...
Dezasseis, dezasseis
homens
saíram tombando,
erguendo a carcaça.
E eu fiquei.
Fiquei deitado.
Meu corpo caiu sobre
os mortos
na primeira revolta.
E levantei-me.
De mim, saiu outro
homem.
Eu levantei maluco
e corri à porta.
Eu gritei
p’la água que não
vinha
p’la fome que tinha.
E escarrei ao carrasco
todo o fel, todo o fel
da revolta nascente.
E eles, eles, os
tiranos
só ligaram meus
membros
quando o corpo cansado
o consentiu.
A revolta cresceu...
As lavas sufocaram os
algozes
e as forças dos meus
nervos
desataram as cordas.
A rebelião crescia
e os carrascos sem
nome
atiraram contra mim.
E os tiros vieram
e eu resisti.
Eu não morri.
Juntos em redor de mim
cobriram de andalas
meu corpo
e eu não morri.
Cresço em ondas de
revolta
e estou ficando louco.
Deportaram-me
mas eu já voltei...
Meus olhos não param
e eu estou de pé.
Bibliografia:
http://stomepatrimonio.blogspot.ch/search/label/Artes%20Pl%C3%A1sticas
http://falcaodejade.blogspot.ch/2011/07/sao-tome-e-os-seus-artistas-comeco-com.html
http://www.vidaslusofonas.pt/alda_esp_santo.htm
2 comentários:
Documento interessante e precioso.
Abraço
Santos Oliveira
Tudo pela ausência de liberdade.
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